sábado, 18 de dezembro de 2010

Catherine M.

"Gosto muito de chupar o sexo dos homens. Fui iniciada nisso quase ao mesmo tempo que aprendi a conduzir a cabeça de um pau até a outra entrada, a subterrânea. Se me deixasse levar pela facilidade, poderia escrever páginas e páginas, levando-se em conta que apenas a evocação desse trabalho de formiga já desencadeia os primeiros sinais de excitação. Talvez haja mesmo uma longínqua correspondência entre meu esmero em fazer um boquete e o cuidado que tenho com toda descrição na escrita. Aliás, nesses momentos, minhas palavras são, tolamente, as de uma criança gulosa. Peço "minha chupeta grande" e isto me deixa feliz. E, quando levanto a cabeça, porque preciso distender os músculos de minhas bochechas, exclamo um "hum... está bom!" como uma criança que pensa agradar aos pais se empanturrando. Da mesma maneira, recebo os elogios com a vaidade do bom aluno em dia de distribuição de prêmios. Nada me estimula mais do que ouvir dizer que sou "a melhor das chupadoras". Melhor: quando, dentro da perspectiva deste livro, converso com um amigo vinte e cinco anos depois de ter encerrado nossas relações sexuais, e ele me diz que desde então "ele nunca mais encontrou uma mulher que chupasse tão bem", baixo os olhos, por pudor, mas também para lamber meu orgulho."

A Vida Sexual de Catherine M. 
Catherine Millet
... durante muito tempo, não usei roupas de baixo. Esqueci a razão pela qual deixei de usa-las. Explicitamente, isso me era ditado por um certo minimalismo, quase um funcionalismo: o princípio segundo o qual um corpo livre não tem de se embaraçar com ornamentos, e mais ainda porque ele já está pronto sem que precise passar por preliminares, cuidados com as rendas ou a manipulação de fechos de sutiã. Em resumo, não suporto o olhar do conquistador que despe com o olhar. Mas, se é para se despir de verdade, melhor fazê-lo de um só gesto. Eis-me explicando que prefiro manter coberto tudo que é comum desnudar, enquanto aqui mesmo nestas páginas exponho uma intimidade que a maior parte das pessoas mantém em segredo. Não é preciso dizer que, a exemplo da psicanálise que nos ajuda a abandonar no meio do caminho alguns farrapos de nós mesmos, escrever um livro na primeira pessoa acaba por relegá-la à terceira pessoa. Quanto mais detalho meu corpo e meus atos, mais me separo de mim mesma.

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