quarta-feira, 1 de junho de 2011

Budas Ditosos

"A intenção [desse texto]...  é provocar tesão, quero que quem me ler fique com vontade de fazer sacanagem. Se alguém lesse isto no avião e, por causa disso, entrasse numa sessão de sacanagem com o companheiro ao lado, seria uma realização, um accomplishment. Penso principalmente nas mulheres, gostaria que as mulheres, ao tempo em que se tornassem mais ousadas, se tornassem também mais abertas, mais compreensivas, deixassem de ser tão mulheres, por assim dizer. E gostaria de um mundo de sacanagem sem problemas, é dificílimo, mas não é impossível em certos casos. Quero que as mulheres fiquem excitadas, se identifiquem comigo, queiram me comer e comer todo mundo que nunca se permitiram saber que queriam comer, quero criar um clima de luxúria e sofreguidão."

João Ubaldo Ribeiro


Escrito no feminino, o que o autor justifica com a curiosa história de ter recebido um pacote com a transcrição datilografada de várias fitas, gravadas por uma misteriosa mulher, A Casa dos Budas Ditosos é a narração, na primeira pessoa, de uma libertina que narra a história da sua vida inteiramente dedicada ao sexo, ditando-a para um gravador.
Ao longo do romance, a narradora pratica todas as modalidades de sexo, sem manifestar o menor arrependimento, experimentando alegremente incesto, sexo com menores, em grupo, troca de casais, homossexualidade e até sexo informático. Considerado como ostensivamente pornográfico, A Casa dos Budas Ditosos é uma narrativa pouco comum, às vezes chocante, às vezes irônica e sempre provocadora, envolvendo um dos pecados mais indomáveis e capitais:
a luxúria.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

O Nascimento de Vênus

"Chovia; ouvia-se o barulho da chuva no telhado do barco. Às cinco horas Paris sempre tem uma corrente de erotismo no ar. Será que isso ocorre porque é a hora em que os amantes se encontram, ou porque entre as dezessete e as dezenove horas acontecem todos os romances franceses? Nunca à noite, parece, porque todas as mulheres são casadas e só estão livres na "hora do chá", o grande álibi. As dezessete sempre sinto arrepios de sensualidade, compartilhados com a lasciva Paris..."

"Marcel e eu caminhávamos na escuridão, entrando e saindo de cafés, afastando as pesadas cortinas pretas quando entrávamos, o que nos dava a impressão de estarmos chegando a alguma cidade subterrânea dos demônios. Negra, como a roupa de baixo das putas de Paris, as meias compridas das dançarinas de cancã, as ligas largas das mulheres criadas especialmente para satisfazer os mais pervertidos caprichos dos homens, os espartilhos pequenos e apertados que realçam os seios e os empurram de encontro aos lábios dos homens, as botas das cenas de flagelação dos romances franceses. Marcel se arrepiava com a voluptuosidade de tudo aquilo..."

Anaïs Nin

"Estas histórias eróticas eu escrevia para distrair o leitor, sob a pressão de um cliente que queria que eu "cortasse a poesia”. Achei que meu estilo se derivava da leitura de trabalhos escritos por homens, e por esse motivo sempre julguei que houvesse comprometido meu eu feminino. Pus o erotismo de lado. Relendo as histórias muitos anos depois, vi que minha própria voz não tinha sido silenciada de todo. Em numerosas passagens eu usara intuitivamente uma linguagem de mulher, vendo a experiência sexual de um ponto de vista feminino. E, finalmente, decidi liberar os textos para publicação porque eles mostram os primeiros esforços de uma mulher em um mundo que sempre fora dominado pelos homens."


Prefácio por Anaïs Nin.


domingo, 3 de abril de 2011

Lilith

"As mulheres humanas com as quais me era consentido lidar não passavam de agentes paliativos. Estou disposto a admitir que as sensações que me causou a fornicação natural foram muito semelhantes às experimentadas pelos machos adultos normais da espécie, nas suas relações com as suas companheiras adultas normais, nesse ritmo rotineiro que faz estremecer o mundo. A diferença residia no facto de esses cavalheiros não terem tido, e eu ter tido, vislumbres de um gozo incomparavelmente profundo e intenso. O mais vago dos meus sonhos profanadores era mil vezes mais deslumbrante do que todo o adultério que o mais viril escritor de génio ou o mais talentoso impotente poderiam imaginar."

"Humbert era perfeitamente capaz de ter relações íntimas com Eva,
mas era Lilith que desejava."

Vladimir Nabokov

"Lolita" é uma das obras mais polêmicas da literatura contemporânea universal. Muito arrojado para a moral vigente na época, o romance de Vladimir Nabokov (1899-1977) foi inicialmente recusado por várias editoras. Ao ser finalmente lançado, em 1955, por uma editora parisiense, gerou opiniões antagônicas: houve quem definisse o livro como um dos melhores do ano; houve quem o considerasse pornografia pura. Nos Estados Unidos, onde só viria a ser publicado em 1958, rapidamente conquistou o topo das listas de mais vendidos. Visto hoje, filtrado pelos anos e por uma verdadeira biblioteca de comentário e crítica, Lolita parece sobretudo uma apaixonada história de amor, escrita com elegante desespero. O protagonista é o obsessivo Humbert, professor de meia-idade. Da cadeia, à espera de um julgamento por homicídio, ele narra, num misto de confissão e memória, a irreprimível e desastrosa atração por Lolita, filha de 12 anos de sua senhoria. Escrito num estilo inimitável é uma obra-prima da literatura do século 20.