domingo, 3 de abril de 2011

Lilith

"As mulheres humanas com as quais me era consentido lidar não passavam de agentes paliativos. Estou disposto a admitir que as sensações que me causou a fornicação natural foram muito semelhantes às experimentadas pelos machos adultos normais da espécie, nas suas relações com as suas companheiras adultas normais, nesse ritmo rotineiro que faz estremecer o mundo. A diferença residia no facto de esses cavalheiros não terem tido, e eu ter tido, vislumbres de um gozo incomparavelmente profundo e intenso. O mais vago dos meus sonhos profanadores era mil vezes mais deslumbrante do que todo o adultério que o mais viril escritor de génio ou o mais talentoso impotente poderiam imaginar."

"Humbert era perfeitamente capaz de ter relações íntimas com Eva,
mas era Lilith que desejava."

Vladimir Nabokov

"Lolita" é uma das obras mais polêmicas da literatura contemporânea universal. Muito arrojado para a moral vigente na época, o romance de Vladimir Nabokov (1899-1977) foi inicialmente recusado por várias editoras. Ao ser finalmente lançado, em 1955, por uma editora parisiense, gerou opiniões antagônicas: houve quem definisse o livro como um dos melhores do ano; houve quem o considerasse pornografia pura. Nos Estados Unidos, onde só viria a ser publicado em 1958, rapidamente conquistou o topo das listas de mais vendidos. Visto hoje, filtrado pelos anos e por uma verdadeira biblioteca de comentário e crítica, Lolita parece sobretudo uma apaixonada história de amor, escrita com elegante desespero. O protagonista é o obsessivo Humbert, professor de meia-idade. Da cadeia, à espera de um julgamento por homicídio, ele narra, num misto de confissão e memória, a irreprimível e desastrosa atração por Lolita, filha de 12 anos de sua senhoria. Escrito num estilo inimitável é uma obra-prima da literatura do século 20.

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