sexta-feira, 6 de maio de 2011

O Nascimento de Vênus

"Chovia; ouvia-se o barulho da chuva no telhado do barco. Às cinco horas Paris sempre tem uma corrente de erotismo no ar. Será que isso ocorre porque é a hora em que os amantes se encontram, ou porque entre as dezessete e as dezenove horas acontecem todos os romances franceses? Nunca à noite, parece, porque todas as mulheres são casadas e só estão livres na "hora do chá", o grande álibi. As dezessete sempre sinto arrepios de sensualidade, compartilhados com a lasciva Paris..."

"Marcel e eu caminhávamos na escuridão, entrando e saindo de cafés, afastando as pesadas cortinas pretas quando entrávamos, o que nos dava a impressão de estarmos chegando a alguma cidade subterrânea dos demônios. Negra, como a roupa de baixo das putas de Paris, as meias compridas das dançarinas de cancã, as ligas largas das mulheres criadas especialmente para satisfazer os mais pervertidos caprichos dos homens, os espartilhos pequenos e apertados que realçam os seios e os empurram de encontro aos lábios dos homens, as botas das cenas de flagelação dos romances franceses. Marcel se arrepiava com a voluptuosidade de tudo aquilo..."

Anaïs Nin

"Estas histórias eróticas eu escrevia para distrair o leitor, sob a pressão de um cliente que queria que eu "cortasse a poesia”. Achei que meu estilo se derivava da leitura de trabalhos escritos por homens, e por esse motivo sempre julguei que houvesse comprometido meu eu feminino. Pus o erotismo de lado. Relendo as histórias muitos anos depois, vi que minha própria voz não tinha sido silenciada de todo. Em numerosas passagens eu usara intuitivamente uma linguagem de mulher, vendo a experiência sexual de um ponto de vista feminino. E, finalmente, decidi liberar os textos para publicação porque eles mostram os primeiros esforços de uma mulher em um mundo que sempre fora dominado pelos homens."


Prefácio por Anaïs Nin.


Nenhum comentário:

Postar um comentário