sábado, 31 de julho de 2010

A história da pornografia 1

Os gregos se divertiriam muito se visitassem um sex shop. Os habitantes de Atenas, há cerca de 2.500 anos, adoravam ver representações de sexo e nudez. As ruas eram decoradas com estátuas de corpos bem definidos. Nas casas, cenas eróticas enfeitavam vasos. Em procissões, famílias erguiam peças fálicas como se fossem imagens sagradas, cantando hinos recheados de palavrões cabeludos. Depois do evento, muita gente ia para casa fazer festinhas em que o deus do vinho, Dionísio, era venerado na prática.

Os homens tinham outra maneira de se divertir: concursos com mulheres nuas. O que mais chamava atenção era uma específica parte do corpo, "as nádegas de Vênus", que eram avaliadas e recebiam notas de juízes. Para os mais cultos, o teatro contava histórias picantes. Em Lisístrata, de Aristófanes, a personagem principal convoca as atenienses à greve de sexo enquanto durar a Guerra do Peloponeso. "Nenhum amante se aproximará de mim com ereção", brada uma personagem. "Não erguerei ao teto minhas sandálias persas", berra outra. Desesperados, os guerreiros encerram o conflito.

Atenas deixou o protagonismo na história, mas a sacanagem não. Toda civilização deu um jeito de manifestar seus ímpetos sexuais. Coube aos gregos definir a devassidão. O termo "pornográfico" apareceu pela primeira vez nos Diários de uma Cortesã, em que Luciano narra histórias sobre prostitutas e orgias - a palavra pornographos significa "escritos sobre prostitutas". Afirma o historiador francês Sarane Alexandrian, em História da Literatura Erótica:

"Aos poucos, qualificou-se como pornográfico tudo o que descrevia as relações sexuais sem amor".
O sentido da palavra mudou. Hoje, nos dicionários, pornografia é a expressão ou sugestão de assuntos obscenos. E por que a maioria de nós gosta de ver pornografia? O proibido e "o buraco da fechadura" podem explicar esse hábito que há mais de 30 mil anos sobrevive a todas tentativas de repressão em nome da moral e dos bons costumes.

Primeiras orgias

O registro mais antigo de um objeto representando o nu é uma peça com aparência nada sensual: a Vênus de Willendorf, encontrada em 1908 na cidade austríaca de mesmo nome, à beira do rio Danúbio, esculpida em calcário por volta do ano 30 000 a.C. Alguns padrões de beleza definitivamente mudaram de lá para cá: a ninfa das cavernas tem peito e quadris enormes, barriga saliente e lábios grossos. Há outras peças arqueológicas parecidas, do mesmo período, encontradas na África, Américas e Oceania. Curiosamente, todas com formas exageradas. Provavelmente eram objetos de culto - parte da pornografia da época vinha sob o manto da adoração aos deuses e deusas da fertilidade.

Com o tempo, o homem parou de usar eufemismos religiosos para dar vazão às suas taras. Os romanos já não escondiam os verdadeiros intuitos de seus hábitos. Famosos pelas festas de sexo em banhos públicos, eles decoravam as casas com esculturas eróticas. Luminárias em forma de falo não faltavam numa sala de classe alta - o pênis ereto era considerado símbolo da sorte. Nos muros de Pompéia, arqueólogos encontraram grafites com frases obscenas e desenhos de transas. Nas paredes do templo ao deus da virilidade Príapo, em Roma, os fiéis deixavam textos pornográficos. A decoração inusitada foi idéia do imperador Augusto, que governou entre 27 a.C. e 14 d.C., e gostava de que seus súditos venerassem Príapo. Um dos textos é assinado por uma dançarina, que reza pedindo ao deus: "Que uma multidão de amantes fique excitada como a Sua imagem".

Havia até escritor especializado em vida sexual. Em Ars Amatoria ("A Arte de Amar"), Ovídio descreve, intimamente, seu casamento e suas escapadas:

"Feliz daquele que esgota o duelo amoroso!
Façam os deuses com que isso seja a causa de minha morte."

Ovídio elaborou um guia do sexo em Roma, como os que a revista Playboy publica hoje. Há sugestões de como e onde homens e mulheres da capital do império podem encontrar os mais belos parceiros, como abordá-los e como satisfazê-los. Também sugere como um amante deve proceder na cama para aumentar o prazer do outro, com direito a minúcias de especialista.

Ars Amatoria é contemporâneo a um trabalho semelhante, mas que ganhou fama internacional como estrela maior da pornografia. O Kama Sutra, escrito na Índia no século 2 d.C., tem passagens ainda mais detalhadas que as do livro de Ovídio. Na cultuada coletânea compilada pelo nobre Mallanaga Vatsyayana, há descrições de mais de 500 posições sexuais.

O estudioso indiano selecionou textos milenares sobre sexo e fez uma defesa da liberdade sexual. Para ele, o sexo faz parte da criação divina, e por isso precisa ser venerado e praticado. Não é à toa que o livro faz sucesso até hoje.

Superinteressante
Edição 212
Abril de 2005

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